Quase me esqueço que hoje é quarta-feira e dia de postar "Reencontros"
Espero que gostem do capítulo de hoje. :)
E
só mais uma vez aceitar...
Aquele
lugar tinha gosto de infância para ela.
Emma
pedalava como uma criança em sua antiga bicicleta enquanto Rodrigo a seguia aos
resmungões.
_ Vai mais
de vagar, Emma! _ Ele gritava.
Mas o vento
fresco batendo em seu rosto fazia com que ela quisesse pedalar cada vez mais rápido.
Por fim,
ela parou próximo ao pequeno lago. Rodrigo não demorou muito para chegar em
seus calcanhares e desmontar se estabacando na grama verde. _ Estou velho
demais para isso.
_ Não está
velho, está fora de forma. _ Emma disse olhando para a barriga do irmão.
Rodrigo sempre teve bom físico, mas estava começando a adquirir aquela famosa
barriguinha de chopp.
_ Ei! _ Ele
reclamou quando viu o olhar da irmã.
_ Se
continuar a comer lasanha como comeu hoje, não vai conseguir nem completar uma
caminhada.
_ Eu estava
com fome. _ Ele se defendeu, mas Emma já não lhe dava mais atenção, estava
tendo um daqueles seus momentos em que algo invisível lhe prendia a atenção.
Era fácil
se perder em pensamentos lá, desde que se entendia por gente, Emma e Rodrigo freqüentavam
a Quinta da Boa Vista, fosse para dar voltas de bicicleta, fosse apenas para se
sentar no gramado e observar a paisagem.
Emma perdeu
a conta de quantas vezes suas reflexões naquele mesmo lugar a levaram a tomar
decisões que mudariam sua vida por completo.
_ Nunca
perde o encanto, né? _ Rodrigo suspirou ao seu lado.
Emma se
perdeu no tempo e não tinha a mínima ideia de quanto tempo ela e o irmão
estavam sentados lado a lado sem dizer uma palavra, apenas observando o cenário
onde crianças corriam com seus pais a observarem a alegria dos filhos.
Ela reparou
que Rodrigo mexia desconfortável no celular, imaginou que a cunhada estaria lhe
cobrando explicações de seu paradeiro e por isso achou melhor nem perguntar.
_ Vocês não
desistem mesmo desse lugar. _ A voz que acompanhou aquela frase fez Emma
tremer.
Relutantemente
ergueu os olhos para se deparar com o rosto de Felipe banhado pelos raios de
sol.
Instintivamente,
ela encarou Rodrigo que já tinha se levantado em um salto. Seus olhos disseram
ao irmão o que seus lábios não permitiram. _ Por quê? _ A pergunta silenciosa
pairou entre os dois.
_ Acho que
vou dar mais uma volta. _ Rodrigo ergueu a bicicleta. _ Estou precisando mesmo
entrar em forma.
Ela
observou enquanto Rodrigo pedalava de jeito desengonçado o mais rápido possível
para longe dela e tentou ignorar Felipe que se sentava a seu lado.
_ Não o
culpe, ele me devia um favor. _ Felipe disse de forma despreocupada. Emma não
respondeu._ Eu só precisava ficar sozinho com você. _ Mais uma vez Emma não
respondeu.
_ Não faz
assim Emma, eu sei que você está doida para me falar meia dúzia de coisas.
_ Eu
sinceramente, não tenho nada pra falar com você. _ Ela quebrou o próprio
silêncio, mas se recusou a olhar para ele.
_ Ainda
está chateada por causa de ontem? _ Ele perguntou e diante do silêncio dela
continuou a falar. _ O que você esperava? Você aparece depois de dois anos e traz
aquele sujeito.
_ E o que
você queria, Felipe? Que eu tivesse passado mais dois anos sofrendo por sua
causa?
_ Eu nunca
pedi que você sofresse e também não pedi para você ir embora, foi você quem
partiu, Emma, eu fiquei.
_ Você
nunca esteve. _ Ela enfim o encarou.
_ Eu odeio
quando você fala desse jeito, dá pra ser direta pelo menos uma vez?
_ Direta
com o que? Pra que?
_ Sobre
nós, por nós.
_ Não
existe mais um nós, eu acho que nunca existiu.
Um sorriso
escapou dos lábios de Felipe, mas Emma sabia que não era de felicidade.
_Você
sempre faz isso, sempre joga a responsabilidade para cima de mim.
_ Se isso
te incomoda tanto, então o que veio fazer aqui?
_ Eu só
queria te ver, Emma. Só queria te olhar. Fiquei dois anos sem notícias suas,
dois anos de silêncio. Eu senti sua falta.
_ Felipe...
_ Olha. Eu
sei que nunca fui bom em demonstrar meus sentimentos e que nunca falo o que
você gostaria de ouvir, mas você também não é fácil, Emma, nunca foi. _
Emma
congelou, Felipe nunca tinha falado assim com ela. Pelo menos não sem soltar
uma gracinha bastante inapropriada depois, e, foi por isso que ela ficou
esperando._ Seria bom
se você dissesse alguma coisa agora. _ Ele disse.
_ Eu não...
Eu não sei o que dizer.
_ Que tal
dizer que vai ficar no Rio, esquecer essa palhaçada de sair do estado, que vai
dar uma chance pra gente...
_ Felipe,
eu não posso fazer isso com o Maurício.
_ Por que
não? Você ta com esse cara há quanto tempo? Dois anos, provavelmente menos.
_ E que o
tempo tem haver com isso? Eu tenho uma vida, sabia?
_ Uma vida
que pelo visto não me incluiu.
_ Você sabe
por quê.
_ Sei? Tem
certeza? Você nunca fala as coisas abertamente, Emma.
_ Então ta
bom. Por acaso você se esqueceu do dia que eu fui toda derretida pra cima de
você e você me deu o fora porque tava com outra? E o pior é que eu nem me
lembro o nome dela. Foram tantas mulheres que passaram pela sua vida que eu até
me perco.
_ Ah! Você
quer dizer o dia que eu tinha mandado uma mensagem cedo pra você dizendo que
estava ansioso para te ver e que você respondeu “também, amigo”? Lógico que
arrumei companhia e depois de estar com um nível etílico considerável você
resolveu se declarar pra mim no final da noite? Lembro sim.
_ Não foi
bem assim que as coisas aconteceram. _ Emma tinha uma impressão bem diferente
daquele dia.
_ Olha,
Emma. Eu sei que sempre fui cafajeste. E sei que você sempre soube disso porque
sempre foi minha melhor amiga, mas você também sabe que eu sempre gostei de
você.
_ Sempre
gostou de mim, da Camila, Juliana, Yasmin, Rebeca, Luana, e sei lá mais
quantas.
_ Para com
isso, sabe que com você é diferente.
_ Diferente
como? A cada vez que a gente ficava você agia estranho depois, sempre deixou
bem claro que não queria nada sério, Felipe.
_ Por isso
é diferente com você, Emma. Você é a única que sempre conseguiu me deixar sem
ação, eu nunca soube como agir depois de um beijo seu, sei lá, não dava pra
saber se você queria que eu te beijasse de novo ou se sumisse da sua frente.
_ Ah, para
de cena. É muito fácil vir aqui e me falar isso agora.
_ Quantas
vezes você deixou que eu te beijasse sem que estivesse bêbada? Nenhuma, Emma.
Você sempre me tratou como mais um amigo.
_ Isso não
tem importância agora, vai ficar no passado.
_ Não
precisa ficar. _ Ele sugeriu.
_ Esquece,
Felipe. Isso não vai acontecer. _ Disse séria. _ Eu estou com o Maurício,
agora, e é com ele que pretendo continuar.
Se levantou
rápido dando a conversa por finalizada, mas Felipe a puxou para se sentar novamente.
_ Já falou tudo o que queria? Agora é minha vez.
Naquele
momento ela soube que não seria tão fácil se livrar dele...
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